25/10/2009
- Diario do Grande ABC
Mais de
25 toneladas de gordura já foram eliminadas com a ajuda de cirurgias de redução
de estômago realizadas no Grande ABC. Segundo a FM ABC (Faculdade de Medicina
do ABC), que faz esse tipo de procedimento desde 2000, 640 pacientes já foram
submetidos às cirurgias bariátricas, indicadas para pacientes com obesidade
mórbida. Segundo especialistas ouvidos pelo Diário, é possível considerar que
cada paciente perca, em média, 40 quilos no prazo de um ano e meio após o
procedimento, apesar de esse dado variar muito de pessoa para pessoa.
Atualmente
são realizadas, em média, de quatro a cinco operações ao mês. Este ano
ocorreram 38. "Existe uma série de procedimentos para a operação, como a
exigência de haver um leito de UTI disponível, caso seja necessário",
explica Edmundo Anderi Júnior, chefe do Serviço de Cirurgia Bariátrica da
FMABC.
Os
interessados em realizar a cirurgia podem se inscrever por telefone (4993-5400)
ou pessoalmente (Av. Lauro Gomes, 2000, Vila Sacadura Cabral). A fila de espera
para a cirurgia é de 280 pacientes. Desses, 17 já realizaram os exames
pré-operatórios e aguardam serem chamados.
SAÚDE E
VAIDADE - Silvana Loddi, enfermeira obstetriz do Hospital da Mulher de Santo
André, se submeteu a cirurgia conhecida como gastroplastia (de estômago)
redutora de Fobi-Capella em maio de 2008. Na ocasião, pesava 124 quilos e seu
IMC (Índice de Massa Corpórea) era de 46.
Desde adolescente apresentava
sobrepeso. Entre os 20 e os 28 anos tentou diversos tipos de dietas e fórmulas.
"Era
um efeito sanfona. Engordava e emagrecia. Fiquei hipertensa e não praticava
exercícios por conta da rotina de faculdade e trabalho", conta a
enfermeira, que trocou os remédios de hipertensão pelas vitaminas necessárias
para as pessoas que se submetem a esse tipo de operação.
Hoje, com
67 quilos, Silvana já fez cirurgia plástica para corrigir abdômen e coxa e
implante de silicone nos seios. "Já era vaidosa e fiquei ainda mais depois
da operação."
Quando
questionada sobre a autoestima, afirma que nunca precisou de acompanhamento
psicológico por ser bem resolvida. "Minha maior preocupação era com a
saúde, depois a estética. O maior preconceito é aquele que você impõe a si
mesma", avaliou.
São
Caetano: ausência de fila de espera
A cidade
de São Caetano possui um serviço independente, gratuito, para os moradores. Os
interessados precisam passar pelo atendimento das UBSs (Unidades Básicas de
Saúde).
Caso haja
indicação para cirurgia de redução de estômago, o paciente é encaminhado ao
Hospital Municipal Maria Braido. A indicação vai depender do IMC, do histórico
e do estado de saúde do obeso.
Segundo a
Secretaria de Saúde, de cinco a seis pacientes são operados, por mês. Não há
fila de espera.
Em
Diadema os pacientes também são encaminhados, via UBS, para o Hospital Estadual
de Diadema.
Brasil é
o 2º em obesos e cirurgias
O Brasil
é o segundo no mundo em obesidade. O dado é da OMS (Organização Mundial da
Saúde). Além disso, o País também já é o segundo em número de cirurgias para
controle da doença, de acordo com a SBCBM (Sociedade Brasileira de Cirurgia
Bariátrica e Metabólica). Os Estados Unidos lideram os dois rankings.
Dados do
IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), indicam que 40% dos
adultos estão acima do peso ideal. Estimativas da OMS revelam que 27 milhões de
brasileiros têm excesso de peso. Destes, 6,8 milhões são tidos como obesos.
Uma
pesquisa de 2008 da Uerj (Universidade Estadual do Rio de Janeiro) constatou
que 15,6% de 260 alunos (entre 10 e 19 anos) de uma escola pública estavam acima
do peso ideal e 11,7% eram obesos. Nos EUA, 17% dos adolescentes estão nesta
situação.
"Cerca
de 3 milhões são obesos mórbidos no Brasil", disse o cirurgião Ronaldo
Oliveira Barbosa, de uma clínica em Santo André. "Para passar por cirurgia
é preciso que o paciente tenha IMC (Índice de Massa Corpórea) igual ou maior a
35, histórico de dietas, além de problemas cardíacos, diabetes, câncer e apneia
do sono". É preciso ainda uma avaliação das condições físicas e
psicológicas para operação. O cirurgião lembra que a obesidade é fruto do
descontrole alimentar e da falta de atividades físicas.
TÉCNICAS
CIRÚRGICAS - Existem várias técnicas de cirurgias para redução de estômago. O
CFM (Conselho Federal de Medicina) reconhece as restritivas (limitam a ingestão
de alimento sólido, dando sensação de saciedade) com o balão intragástrico
(anel no estômago por até seis meses), ou as disabsortivas (encurtam o caminho
dos alimentos, a partir de um desvio, reduzindo a absorção dos nutrientes). A
mais consagrada (80% das cirurgias) é a de Fobi-Capella, onde há restrição à
ingestão a partir da redução do estômago e também da disabsorção. A cirurgia
pode ser convencional (aberta) ou videocirurgia.
Uma nova
técnica, a gastrectomia vertical com anel (GVA), que reduz o tamanho do estômago
sem alterar a absorção, realizada há cinco anos no mundo e há um no País, foi
comparada à Fobi-Capella.
O estudo da Unifesp (Universidade Federal de São
Paulo) constatou que a GVA absorve as vitaminas, o que pode descartar uso de
complexos vitamínicos.
"Estamos
aprimorando a técnica, por isso ainda não a praticamos", adiantou João
Luiz Moreira de Azevedo, cirurgião e professor da Unifesp que coordena pesquisa
desenvolvida pelo cirurgião Gustavo Peixoto Miguel, da UFES (Universidade
Federal do Espírito Santo).
Operação
implica mudança radical de comportamento
Entre as
avaliações obrigatórias do período pré-operatório está a psicológica. Isso
porque a cirurgia é apenas o primeiro passo do processo, que resulta numa
mudança radical de padrão de comportamento. O indivíduo precisa reduzir
drasticamente as porções, comer mais vezes ao dia e nos primeiros dois meses só
pode ingerir líquidos e pastosos.
"A
compulsão afeta diretamente no peso. Somente o acompanhamento psicológico ajuda
a superar as questões internas que levam à compulsividade", avaliou Adélia
Maria Panzarin, especialista em compulsão há oito anos. Ela revela, ainda, que
é importante uma grande preparação antes da operação. Mas, nem sempre é
possível por conta dos convênios. "Estabeleci um mínimo de quatro sessões
para poder avaliar o paciente", explicou Panzarin, que lembrou das
complicações do pós-operatório, como a transferência dos hábitos compulsivos
(para álcool e tóxicos).
"Fiz
terapia quase dois anos. Fiquei depressiva, muito discriminada no trabalho
pelos colegas, que me chamavam de folgada por causa das minhas limitações
físicas", desabafou a bancária Alessandra Matias, 54, aposentada por
invalidez.
Quando se
submeteu à cirurgia de Fobi-Capella, em 2004, pesava 103 quilos, com 1,67 de altura.
Atualmente, com 71 quilos, está curada de uma hérnia de disco, não sente mais
as lesões nos joelhos e não precisa mais da terapia: "Hoje tenho uma nova
vida".
Técnica
usada pelo apresentador Fausto Silva não segue normas
O
apresentador Fausto Silva, o Faustão, submeteu-se recentemente a uma técnica de
redução de estômago que ainda não está regulamentada pelo CFM (Conselho Federal
de Medicina) e não é reconhecida pela SBCBM (Sociedade Brasileira de Cirurgia
Bariátrica e Metabólica), apesar de existir há cerca de seis anos. "Não há
comprovação científica dos resultados já que é feita por um único médico. Não
segue as normas do CFM", disse Thomaz Szegö, presidente da SBCBM. Segundo
a entidade, o índice de mortalidade nas cirurgias regulamentadas é inferior a
3%.
Desenvolvida
pelo cirurgião goiano Áureo Ludovico de Paula, a gastrectomia vertical com
interposição de íleo tem como objetivo curar o diabetes tipo 2 (causada pela
falta de insulina no organismo), além de causar redução de peso. O que a difere
das demais é a inversão da posição do íleo (fim do intestino delgado), que ao
entrar em contato com o alimento gera o hormônio que estimula a produção de
insulina. Procurado pelo Diário, o médico não retornou às ligações da
reportagem.
A
produtora Leonor Correa, irmã do apresentador, submeteu-se à Fobi-Capella em
fevereiro de 2003, aos 40 anos. "Já perdi 50 quilos e troquei o manequim
60 pelo 42. Me sinto mil vezes melhor", disse a atual produtora do
programa da Eliana, do SBT. Ela contou que o apoio da família foi importante no
processo e que abriu mão dos doces para ajudar a manter o peso.
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